


Ele vive no mundo da lua. Ela é muito agitada. O que eles têm?
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, conhecido como TDAH, é um problema de saúde mental que tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade.
Ele sobe nos móveis o tempo todo, não aceita ordens, não aceita “nenhum não”, tem um temperamento difícil, na escola costuma ser desatento. Se esses sintomas são comuns em seu filho, fique atento, ele pode apresentar Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, conhecido como TDAH, um problema de saúde mental que tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade. Este transtorno tem um grande impacto na vida da criança ou do adolescente e das pessoas com as quais convivem como os amigos, pais e professores. O TDAH é caracterizado por um conjunto de sintomas com padrão persistente. Somente se a criança ou o adolescente apresentar pelo menos seis sintomas de cada conjunto é possível fazer o diagnóstico de TDAH. Isso porque muitos dos sintomas são apresentados por qualquer um de nós, em alguma fase da vida (veja o Box).
A criança que apresenta este transtorno, quando bebê, chora muito e tem dificuldades pegar no sono. Na infância, antes de entrar na escola, ela apresenta um temperamento mais difícil. Mas é na sala de aula que os sintomas do TDAH são mais freqüentes. “Geralmente, o diagnóstico é feito quando a criança ingressa na escola. Ela apresenta problemas de disciplina, não consegue ficar atenta e se concentrar”, explica a psicóloga Edyleine Bellini Peroni Benczik, Mestre em Psicologia escolar pela PUCCAMP e Doutoranda em Psicologia do Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP.
Há três tipos de diagnósticos do TDAH. Um é o TDAH predominantemente desatento, quando a criança apresenta diversos sintomas de desatenção, é muito apática, vive “no mundo as lua”, é lenta par executar as tarefas. O outro é o TDAH predominante hiperativo impulsivo, quando ela consegue se concentrar, mas fisicamente é muito agitada. E o terceiro tipo é combinado, quando há desatenção, agitação e impulsividade.
O tipo mais diagnosticado, segundo Edileyne, é o combinado. O menos diagnosticado é o desatento, já que um transtorno silencioso. “A criança é dócil, mas seu aproveitamento na escola é muito pequeno. É muito difícil perceber”, explica ela.
Os casos de TDAH não são raros. Cerca de 3 a 5% da população em idade escolar, segundo a psicóloga, apresenta esse transtorno. Na população adulta, esse índice cai para 2%. “É um mito achar que esse transtorno vai passar”, alerta ela. “Sem tratamento, ele continua até à fase adulta”, completa.
Até o momento, os cientistas não conseguiram definir uma causa única do TDAH. O que se sabe é que ele é possivelmente hereditário – passado de geração para geração. Os atores emocionais e sociais não causam a hiperatividade, mas podem desencadeá-la ou exarcebá-la. Hoje os pesquisadores acreditam que o TDAH é uma disfunção neurobioquímica da parte frontal do cérebro – parte responsável pela capacidade de organização e planejamento.
É preciso, no entanto, não confundir uma criança agitada com uma que apresente esse transtorno. “O transtorno mesmo é considerado quando a criança ou o adulto tem prejuízos claros na sua vida. O TDAH está presente em qualquer situação”, explica Edileyne. A pessoa apresenta os sintomas em qualquer ambiente, seja na escola, em casa ou no trabalho.
Hoje, ela acredita que os psicólogos estão mais habilitados a diagnosticar esse tipo de transtorno, já que há mais livros disponíveis sobre o assunto e vários os congressos são realizados. “Antes, os pais corriam com os filhos atrás de especialistas e não encontravam respostas para os problemas”, compara ela.
Os tratamentos dependem de cada caso. De um modo geral, há os casos onde é preciso a indicação de medicação e há aqueles que necessitam de um acompanhamento psicológico. “Aí, é preciso trabalhar a relação familiar, que já está bastante comprometida. A psicoterapia e a orientação familiar, nestes casos, são bem-vindas”, ressalta ela. Apesar do tratamento, a psicóloga reforça que uma vez com TDAH, sempre com TDAH. “Há controle, mas não há cura”, diz ela.
Muitas vezes, no tratamento desse transtorno é preciso também o acompanhamento de outros profissionais, como fonoaudiólogo – quando há problemas de linguagem; psicopedagoga – quando há caso de defasagem escolar; reforço escolar – quando a criança precisa de alguém que a ajude a conduzir os estudos e até mesmo de terapeuta ocupacional. “É preciso que as pessoas saibam que as crianças e adolescentes que apresentam esse transtorno são inteligentes. A desatenção não tem nada a ver com a inteligência”, alerta ela.
SINTOMAS DO TDAH
Grupo de desatenção:
· Não prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido.
· Ter dificuldade para concentrar-se em tarefas e/ou jogos.
· Não prestar atenção ao que lhe é dito (“estar no mundo da lua”).
· Ter dificuldade em seguir regras e instruções e/ou não terminar o que começa.
· Ser desorganizado com as tarefas e materiais.
· Evitar atividades que exijam esforço mental continuado.
· Perder coisas importantes.distrai-se facilmente com coisas que não têm nada a ver com o que está fazendo.Esquecer compromissos e tarefas.
Grupo de Hiperatividade/Impulsividade:
· Ficar remexendo com as mãos e/ou pés quando sentado.
· Não parar sentado por muito tempo.
· Pular, correr excessivamente em situações inadequadas ou ter uma sensação interna de inquietude.
· Ser muito barulhento para jogar ou divertir-se
· Ser muito agitado.
· Falar demais.
· Responder às perguntas antes de terem sido terminadas.
· Ter dificuldades de esperar a vez.
· Intrometer-se em conversas ou jogos dos outros.
Jornal da Economia
Pag.: B-3 – 22/10/2004

